quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Solidão


Solidão. Não sei por que as pessoas têm tanto medo dela. Até que me dou bem com ela. Ela não me incomoda, pelo contrário, fico à vontade. Posso ser quem eu sou, sem maquiagem, sem perfumes caros ou roupas impecáveis. Posso falar palavrão, cantar sozinha, sem me preocupar se estou desafinando ou “pagando mico”.
Com a solidão posso devorar uma caixa de chocolate sem ninguém pra me falar do colesterol. Ou da glicose. Com a solidão escrevo, leio, penso, ou simplesmente faço nada.
Com a solidão, me permito ver novela, estar na bagunça do meu quarto sem ser incomodada. Relembrar fatos tristes ou engraçados e até chorar. Posso colocar máscaras esquisitas no rosto e uma touca metálica no cabelo e ler uma revista quando minha aparência é assustadora.
A solidão me proporciona silêncio, outras vezes músicas altas, outras vezes silêncio e música alta ao mesmo tempo, pois o pensamento está longe – silenciando qualquer música. E ele é capaz de silenciar o mais trash heavy metal.
Com a solidão posso usar calcinha furada, camisola rasgada, não tomar banho antes de dormir. Posso atender quem eu quiser, na hora que eu quiser. Não tenho obrigação de ser simpática.
A solidão traz coisas boas, momentos de reflexão, de criatividade, de mudanças. Com a solidão, posso fazer minhas orações, concentrada e intensamente.
A solidão só é ruim quando deixa de ser momentânea e vira algo constante. Momentos de solidão são bons, necessários, eu diria até vitais. Desfazer-se das personagens e figurinos faz bem pra alma, pro coração.
Viver sozinho não. Sentir-se sozinho não. Viver sozinho é não ter com quem dividir um sorriso sincero, não ter quem abraçar no meio da noite. Não ter pra quem ligar quando algo bom acontece. Não ter com quem dividir o cobertor e o sorvete. Viver sozinho é sentir um vazio constante e ao olhar para sua agenda, ter como compromisso mais importante o médico ou a fisioterapia. Viver sozinho é angustiante, dilacerante, gritante. Um grito silencioso – não há ninguém para ouvi-lo. Viver sozinho é triste, às vezes é egoísta, é certeza de arrependimento futuro.
Deus me livre viver sozinha e hoje eu sei que tenho com quem contar pro que der e vier, afinal encontrei quem procurava durante minha vida inteira. E que Deus assim conserve. Mesmo com um grande amor que encha de alegria seus dias, é bom estar, em alguns momentos, em sua companhia apenas – nem que seja para usar aquela máscara de rosto assustadora. Mas melhor ainda, é ter alguém para dizer eu te amo todos os dias – até usando essa máscara horrorosa no rosto.



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