quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O romantismo e o casamento


Abrir a porta do carro.
Usar palavras gentis.
Levar pra jantar.
Elogiar o cabelo ou o vestido.
Flores.
Declarações e bilhetinhos inusitados.
Tanta coisa faz parte do início. Ah, mas por que o tempo - esse bendito - faz com que tudo mude?
Mude a nós mesmos e por isso sabotamos, mesmo sem querer, o relacionamento? A ponto de torná-lo maçante?
Depois de um tempo, a gentileza já não é tanta. A paciência também não. Às vezes, nenhuma e como é ruim. Respeito... Cada vez mais raro.
O eu te amo, muitas vezes, se transforma em lave a louça.
As palavras gentis são substituídas na rotina por reclamações - do trânsito, da política, do calor, da sua tpm, do nada ou de tudo. Virou habituè.
Levar pra jantar num restaurante bonito vira pedir pizza em casa. Não que seja ruim, mas não é a mesma coisa. Além do que engorda. Nem as velinhas que estão na mesa são acesas mais. Daqui a pouco está comendo pizza com ketchup, em vez de um bom azeite. Divórcio litigioso isso.
Flores, até o noivado. Ou as últimas que você viu foram seu buquê.
Bilhetes passam a conter códigos de barras, listas de mercado ou um telefone que você não sabe se é da água ou do gás ou do eletricista. Ou da farmácia. Ou da mega-sena.
E assim, o romantismo mingua. O casamento morga. O respeito agoniza. Respeito pelo que um dia foi feito por você e não é feito mais. Respeito pelo "felizes para sempre", cadê?
Só resta parar um tempo, silenciar, pesar tudo, até os gramas de cada memória boa e promessa de felicidade e ver se ainda vale a pena - quando desconsiderar as promessas.
E se ainda valer, renove-se. Recomece. Cuide-se. Faça sua parte, antes de exigir qualquer coisa do outro. Respire. Mude suas atitudes, gestos, palavras. Use da gentileza. E do silêncio. Esses dois juntos e não teríamos tido uma só guerra no mundo.
Casamento deveria vir com um balão de oxigênio acoplado e um cronômetro, para respirarmos fundo e contarmos até dez. Mas não.
Só vem com sonhos, muitos sonhos e uma ansiedade louca de fazer dar certo.
Mesmo com a louça por lavar e o romantismo precisando de um desfibrilador para reanimar-se.
Não desista. Lute. Não é fácil. Mas quando acertamos, nem que seja no recadinho de amor deixado da geladeira - antes da lista do mercado, vemos que vale a pena ter um companheiro ao lado para partilhar a vida, a louça, a pizza embaixo da coberta, o código de barras para ser pago e que a sensação de que você não jogou a toalha no primeiro empecilho faz tudo valer a pena. Se valer a pena, continue. Keep calm and go on. O caminho é longo.
Por isso, merecemos um brinde e claro, flores.

Daniele Van-Lume Simões   08 de dezembro de 2016



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