quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Saber falar, saber ouvir e o respeito à plateia


Se tem uma coisa que aprendi dando aulas foi saber se colocar. E se colocar envolve dois verbos principais: ouvir e falar.
Falar com firmeza, porém sem grosseria. Respeitar o ouvinte, independente do seu conhecimento prévio sobre o tema. Ser firme não é ser duro ou arrogante, embora frequentemente as pessoas achem que são sinônimos e se comportam de uma forma agressiva, para se defender de um possível "ataque" que nunca existirá. Discutir um tema não é atacar - ou pelo menos não deveria ser.
Ser firme é manter o tom de voz coerente com sua educação. E o limite entre a firmeza e grosseria, baseado nesse tom é muito tênue.
Pois bem, mais do que saber falar, eu aprendi, dando aulas, a saber ouvir.
Ouvir a dúvida, por mais banal que pareça para alguns, deve-se ter respeito por ela, pois se não existissem dúvidas, não haveriam certezas nem tampouco conhecimento gerado.
É a maçã que caiu do pé e por conta de uma dúvida, formulou-se a lei da gravidade.
Saber ouvir a angústia numa pergunta de um aluno, ou até de um paciente, na época que eu dava plantão, quando não entendia o resultado do exame. Isso é tão importante quanto saber falar eloquentemente. Saber ouvir alguém mais velho e com mais experiência e refletir sobre o que foi dito. Saber ouvir com senso crítico e não tomar tudo por verdades absolutas. Quantas teorias não caíram por terra? Kepler que o diga. Com perdão do trocadilho.
Aí mora o grande problema no Brasil: o senso crítico é visto sempre da pior forma possível, como uma espécie de desmerecimento - seja da fala, seja da pergunta, seja da resposta. Mas pior ainda quando é da pergunta.
Criticar não é por defeitos, é discutir o tema para melhor entendimento e elucidação de questões que insistem em aparecer e que não dá para encobrir com uma manta velha. Criticar não é menosprezar o trabalho de ninguém, é tentar melhorá-lo, é propor ideias e mesmo que falhas sejam apontadas, estas devem ser apontadas para serem corrigidas. O quanto antes.
O que isso tem a ver com o respeito à plateia? Tudo. Uma plateia que não é respeitada por alguém quando pergunta algo, ou é desmerecida na sua formação/composição aí é que deve sim se impor. Deve sim criticar. Deve sim falar para ser ouvida. Se não houvesse uma plateia, sua fala seria inútil. Como alguém ousa desmerecer a razão de sua fala?
Uma pessoa que desmerece uma plateia não deveria ter o direito de abrir a boca, pois não sabe ouvir. O pilar da comunicação é o dueto saber ouvir/saber falar e só o equilíbrio entre esses dois saberes - interlocutor e a plateia como uma simbiose - é que faz uma discussão ser frutífera, sem ofensas, ânimos exaltados ou pior, a perda da razão - de qualquer que seja a parte. Essa simbiose diplomática é que faz com que todos os envolvidos sejam respeitados, independente se o indivíduo está sentado numa cadeira como espectador ou em cima de um palco, com todas as luzes voltadas para ele.

Daniele Van-Lume Simões   14 de dezembro de 2016


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