segunda-feira, 3 de abril de 2017

Os sonhos e a vida

Quase uma hora da manhã, estou sem sono e começo a filosofar sobre a vida. Eu deveria estar dormindo já, sonhando até... Mas o que é sonho?
Quando somos crianças, sonho é imaginar o futuro, como seria ser adulto, como seria trabalhar, como seria usar salto alto e batom (no meu caso). Quebrei vários saltos da minha mãe e estraguei toneladas de maquiagem dela que tiveram como preço algumas palmadas e horas no quarto de castigo sem TV. Mas não tinha problema, eu era criança e minha imaginação andava solta. Eu imaginava que seria rica, moraria numa bela casa com piscina, teria um carro rosa conversível (sem trabalhar na Mary Kay obviamente...), teria cachorros, uma família linda e filhos, dois: um menino e uma menina. Ainda seria astronauta ou cientista. Ah, e seria famosa. Quantos sonhos para uma menina só!
De lá pra cá, os sonhos mudaram, outros tornaram-se distantes e alguns realizei. A família linda eu construí, ainda que sem filhos. Não virei astronauta, virei cientista. Tudo o que é relacionado à ciência biomédica me fascina até hoje. Estou longe de ser rica, meu carro não é rosa (ainda bem!) e moro num apartamento sem piscina. Vi que realizei apenas o que realmente importa.
Hoje os meus sonhos são outros. Sonho em ter muita saúde para trabalhar no que gosto, sonho em ter sabedoria para manter minha família unida, sonho em ter um gato em vez de um cachorro, porque cachorros são cansativos demais e hoje, mais do que ser astronauta, eu só quero ser feliz na maior parte do tempo da minha vida. Com minha família, com meu trabalho e com meus amigos.
Os sonhos estão bem mais modestos, mas não menos importantes. Eles só se adequaram às experiências de sua vida, dando um peso às coisas que importam de verdade. Se você perguntar hoje qual o meu maior sonho? Ver os sonhos das pessoas que eu amo realizados. Ver o sorriso do meu marido, ver meu pai tranquilo, ver minha mãe animada, ver meus amigos bem-sucedidos e claro, me ver parte integrante dessa felicidade e sucesso.
Os sonhos, depois de certa idade, passam a não ser só seus. Começam a envolver outras pessoas, outras realizações que não dependem de você apenas. Você tem seus desejos e sonhos, mas eles perdem o sentido se não envolverem as pessoas que são importantes na sua vida. É quase um sonho solidário.
Não acredito em realização pessoal, se as pessoas que te cercam não estão felizes. Realizações envolvem relacionamentos interpessoais, seja no trabalho seja com os familiares e amigos. Por isso a felicidade é uma via de mão dupla. Não existe felicidade na solidão. Existe equilíbrio, paz interior, tranquilidade, conexão espiritual, mas felicidade é uma energia que circula pelo menos entre duas pessoas, é uma energia compartilhada, assim como os sonhos começam a ser com o tempo compartilhados. Compartilhar sonhos é compartilhar felicidade e realizações.
Se aos 34 anos eu penso assim, pode ser que eu chegue aos 60 sem sonho nenhum genuinamente só meu. Mas se isso acontecer, terei a certeza que compreendi o verdadeiro sentido do altruísmo, o verdadeiro motivo de sonharmos e consequentemente, o verdadeiro valor da vida. 

Daniele Van-Lume Simões   04 de abril de 2017


3 comentários:

  1. Quando agente amadurece com conhecimento do sentido da verdadeira vida material e espiritual é isso que vc falou.Amei .Parabéns. Ainda tem seres humanos longe dessa realidade.É lamentável.

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  2. me lembrei do filme "Na natureza selvagem" a mensagem que o filme passa é "Happiness is only real when shared", as vezes precisamos perder tudo para perceber isso.

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